PABLOCHI - 02 – Reencontro

Capítulo 2 – Reencontro (Narrado por Rocío)

Cheguei ao térreo e passei pela praça. Caminhei devagar. Eu já tinha perdido o primeiro período de aula. Estava desanimada então, fiquei por ali mesmo. Era tão estranho ver o Instituto quieto. Era sempre tão movimentado. Bom, eu não era a única que estava matando aula e na verdade não éramos obrigados a assistir as aulas, mas as faltas nos perseguiriam por toda a vida. Distraída, não notei que alguém se aproximava. Ele me agarrou pela cintura e me abraçou carinhosamente.

Maxi: Oi sonho!

Rochi: Oi Maxi!

Dei um beijo na bochecha dele e ele começou a andar junto comigo.

Maxi: Não vai para a aula?

Rochi: E voce, não vai para a aula?

Maxi: Ok, somos dois errados!

Eu dei uma leve risada.

Maxi: Isso é tudo que eu ganho?

Ele fez uma careta e eu soltei uma alta gargalhada. Só ele conseguia me fazer rir daquele jeito. Meu melhor amigo!

Maxi: Já tomou café?

Rochi: Não, acordei e tive de ir direto para a sala da Mercedes!

Maxi: Novamente, somos dois.

Rochi: Não por muito tempo. Vou arrumar algo pra comer agora! – comecei a correr.

Maxi: Me espera! Também quero! – ele veio correndo atrás de mim.

Fomos até o refeitório, feito duas crianças, pulando e rindo. Eu me sentia uma criança, mas era bom. Eu gostaria de me sentir daquele jeito sempre.
Nós nos sentamos e fomos servidos. Com certeza, se tinha algo que eu não podia reclamar era a comida do Instituto.

Maxi: Isso está uma delicia! – ele disse de boca cheia.

Rochi: Ai, Maxi. Mastiga primeiro, fala depois!

Maxi: Não me corrija! – ele disse dando um leve sorriso.

Eu já havia terminado de comer e Maxi ainda saboreava a salada de frutas com calda de chocolate. Eu tinha duas opções: ficar assistindo ele se sujar com o chocolate ou imaginar o mundo perfeito e idealizar o meu moreno perfeito. E que moreno.

Rochi: Claro que eu não me refiro ao Pablo! – pensei.

Às vezes eu enganava ou tentava enganar a mim mesma. Talvez por medo de me apaixonar e por medo de sofrer... De novo.

Maxi: Rochi! Rochi! Você está surda?

Minha vontade foi de enfiar as frutas que sobravam no prato na boca dele.

Maxi: Rochi!

Rochi: O que foi Maxi? – respondi irritada.

Maxi: Calma não precisa ser grossa. É que tem um cara te chamando.

Rochi: Quem?

Me virei devagar e então o vi. Ele caminhou até minha mesa, com um brilho radiante nos olhos.

Pablo: Oi... De novo!

Rochi: Oi! – tentei conter minha alegria de vê-lo novamente. – Bom, eu estava esperando uma ligação e mais tarde. Mas se voce prefere pessoalmente e agora...

Ele deu um sorriso.

Pablo: Você é incrível. Mas eu vim por que nesse momento voce devia estar na aula e não esta.

Rochi: Virou segurança agora?

Pablo: Quase! – ele sussurrou.

Eu não entendi o quase, mas preferi esquecer. Puxei Maxi pelo braço e nós dois fomos para o terceiro período daquele dia. Eu nem sabia que aula teria, o Instituto tinha disciplinas bem anormais devo dizer.
Caminhamos um pouco, deixando Pablo para trás e entramos em uma das maiores salas do lugar. Lotada. Boa parte das pessoas ali eu não conhecia, mas eles pareciam me conhecer. Me sentei ao lado de Maxi e logo vi Euge entrar. Ela correu ao me ver e se sentou ao meu lado.

Euge: Estava na sala da Mercedes até agora? – ela parecia preocupada.

Rochi: Não! A reunião foi bem rápida.

Euge: O que ela queria com voce?

Rochi: Pedir um favor, nada de mais!

Euge: Se a reunião foi rápida onde voce estava até agora? Fiquei preocupada.

Rochi: Eu estava meio perturbada, já tinha perdido o primeiro período, então não entrei.

Euge: E o que te fez vir para o terceiro período?

Rochi: Um amigo me mandou!

Assim que terminei de falar, a professora morena entrou na sala. Bonita, alta, estava mais para modelo do que para professora.

Charlotte: Bonne journée! Mon nom est Charlotte et je suis un professeur de français. N'importe qui ici parlent français? (Bom dia! Meu nome é Charlotte e eu sou professora de Frances. Alguém aqui sabe falar francês?)

Todos ficaram calados. Imaginei que ninguem tinha entendido uma só palavra pronunciada por ela.

Rochi: Moi! Je suis en Argentine, mais a grandi en France. (Eu! Sou Argentina, mas cresci na França.)

Charlotte: C'est génial! Dites-m'en plus! (Que ótimo! Conte-me mais!)

Rochi: Mon nom est Rocío Igarzábal, Je suis né en Argentine, mais je vis avec ma grand-mère en cinq ans avec Marseille. (Meu nome é Rocío Igarzábal, nasci na Argentina, mas fui morar com minha avó em Marselha com cinco anos.)

Charlotte: Incroyable! Je pense que nous ferons très bien! (Incrível! Acho que vamos nos dar muito bem!) Bom, meninos, pelo visto vou ter que trabalhar duro aqui. Alguém pelo sabe alguma palavrinha em francês?

Todos continuaram quietos. Ela se virou e começou as escrever algumas palavras, o básico do Frances na lousa. Permaneci quieta durante toda a aula.

Com o término ela agradeceu e pediu que estudássemos. Eu me levantei com meus amigos e saímos da sala. Euge e Maxi começaram a caminhar para a saída do prédio e eu fiquei parada.

Euge: Você não vem, Rô? – ela disse carinhosamente.

Rochi: Vou fazer uma coisa! Não precisa me esperar!

Euge sorriu e saiu com Maxi. Eu fiquei ali parada por alguns segundos. Depois me virei e fui em direção a biblioteca.
Estava à procura de um livro em especial. Comecei a caminhar entre as prateleiras, lendo atentamente o nome de casa livro. Continuei caminhando e alguém do outro lado da prateleira, no corredor paralelo, me acompanhava. Puxei um livro e o olhei.

Rochi: De novo?

Ele sorriu, nossos olhos se encontraram. Ele deu a volta e parou ao meu lado.

Pablo: Não esta feliz em me ver?

E como estava.

Rochi: O que veio fazer aqui?

Pablo: Você tem um sorriso lindo!

Rochi: Obrigada! – agradeci meio envergonhada – Mas não foi isso que te perguntei.

Pablo: Ah sim! Vim procurar um livro!

Rochi: Sério? Qual?

Pablo: É...

Ele se enrolou e eu percebi que estava mentindo.

Pablo: Ok, eu não vim procurar um livro. Foi só uma desculpa para te ver!

Novamente ele me arrancou um sorriso envergonhado.