PABLOCHI - 01 – Cegos de amor

Cegos de amor. (Narrado por Rocío)

Eu caminhava por um campo de flores. Usava um vestido branco e solto. Eu me sentia livre, feliz. Uma liberdade que jamais sentira antes.
Euge: Rocío!

A voz rouca da minha amiga me tirou do sonho perfeito. Tentei abrir os olhos, mas não conseguia com a forte luz em meu rosto. Me virei a procura dela.


 



Rochi: O que foi Euge? – Respondi ainda sonolenta.

Euge: Sonhei... Sonhei de novo com ele! O que eu faço?


Seus movimentos transmitiam desespero, mas não era isso que eu via. Na verdade, acho que ela nem estava tão mal assim por sonhar com ele. Talvez estivesse ate mesmo feliz.


Euge: Esta me escutando?


Novamente ela interrompeu meus pensamentos.


Rochi: Sim, estou.


Euge: Então o que faço?


Rochi: Não faz nada!


Euge: Como assim?


Rochi: Não faz nada, apenas isso.


Fazia cerca de duas semanas que ela havia se encontrado com o selvagem. Eles haviam invadido o Instituto e ela se esbarrou com um deles. Loiro, alto e bonito, ela não o tirava da cabeça e sonhava constantemente com ele.


Euge: Rochi! Não esta ouvindo uma palavra minha!


Ela parecia irritada, mas eu estava cansada. Me segurei para não falar tudo o que guardava no peito.


Euge: Rocio!


Dessa vez ela alterou o tom da voz o que me alterou. Eu era calma, mas naquele momento, a minha vontade era de pular em cima dela e tentar fazê-la entender. A resposta que ela procurava: ela estava apaixonada. Esse sentimento bobo que cega as pessoas. Meu ato foi impedido com o grito de Cande. Eu e Euge nos levantamos rapidamente.

Abri a porta e encontrei todos no corredor. Claro, quem não acordaria com aquele grito?

Agus: Cande!


Agustín apareceu na escada. Nervoso e preocupado, ele subiu tão rápido que pulou alguns degraus e escorregou algumas vezes, o que não o impediu de chegar ao 8º andar do prédio. O susto foi tanto, que ele mal percebeu que estava sem roupa e ainda esquecera-se de colocar o roupão. Ou seja, apareceu em uma andar onde só havia meninas de cueca.

Como eu disse, cego de amor.

Angus: Cande! – Ele a chamou novamente se dirigindo ao quarto dela.


Ninguem sabia o verdadeiro motivo do grito, mas as conversinhas já estavam no ar. Aquele zunido irritante de meninas cochichando, se intrometendo no que não era da conta delas.

Agus saiu do quarto com Cande nos braços. Ela chorava desesperada.

Euge: Cande o que aconteceu?


Cande: Eles estavam no quarto.


Rochi: Eles quem?


Cande: Os selvagens Rochi! Levaram a Nadia!


Agus: Que?


Cande: Por que... eles f-fazem isso? Por que nos... odeiam? – Suas palavras se embolaram com suas lagrimas.


Eu ainda acreditava no contrario: nós os odiávamos, mas preferi ficar calada. Não queria gerar uma discussão.

Depois de muito esforço, conseguiram fazer Cande se acalmar. Entrei para o quarto quase me arrastando, precisava dormir. Para minha sorte, Euge também estava cansada e despreocupada com o sonho que tivera. Finalmente, paz.
De manhã, fomos acordados pela inspetora Renée. Uma mulher de cabelos avermelhados, pele clara, olhos bonitos que mal se percebia devido aos óculos que chamavam atenção em seu rosto pequeno. Sempre de saia abaixo do joelho, tinha seus trinta e poucos anos, mas parecia ser bem mais velha. Era a “cobaia” de Mercedes.

Renée: Rocío, Mercedes quer falar com voce!


Minha pulsação aumentou. Será que ela descobrira minha “fuga”?


Rochi: Agora? – Respondi tentando não mostrar meu nervosismo.


Renée: Sim, agora. Anda! – Ela respondeu um pouco ignorante.


Peguei meu casaco e sai feito um furacão. Então, no meio a minha correria, esbarrei em alguém.


 
Rochi: Não olha por onde anda? – Respondi irritada.

-Eu sinto muito!


Só aí reparei nele. Moreno, alto, de casaco escuro, se levantou e me deu sua mão. Meu nervosismo passou. Mercedes que esperasse.


-Você esta bem?


Rochi: S-sim... Obrigada!

Ele sorriu pra mim e eu me senti uma idiota pelo modo que falei com ele.

Pablo: Sou Pablo!

Aqueles olhos, aquele sorriso. Ele esperava minha resposta, mas eu viajava em meu mundo perfeito. Ele então mudou o olhar e eu acordei.
Rochi: Sou Rochi. Rocio na verdade, mas todos me chamam de Rochi.

Pablo: Muito prazer, Rochi!

Ele novamente deu um sorriso devastador. Senti minhas pernas bambearem. Ele poderia parar uma guerra com aquele sorriso.

Pablo: Você parecia apressada!

Rochi: A sim. Mercedes me chamou.

Pablo: Um, é melhor ir. Ela não gosta de esperar.

Ele falava como se fosse intimo dela. Talvez.

Pablo: A gente pode se encontrar depois?

Ele queria me ver de novo? Ele queria me ver de novo! Me segurei para não pular em seu pescoço e beijá-lo. Mais não tornava menos estranho o fato dele querer me ver de novo, já que tínhamos acabo de nos conhecermos. Mas eu não conseguiria dizer não.

Rochi: Claro! Quando voce quizer.

Pablo: Bom, eu moro no prédio 6. Você mora aqui?

Rochi: Sim, tem caneta?

Pablo: Tenho... Por quê?

Ele fez uma cara de quem não tinha entendido. Bom, ser misteriosa é bom... Às vezes. Ele me entregou a caneta e eu puxei o braço dele. Levantei a manga do casaco e escrevi o numero do meu telefone. Tampei a caneta, entreguei a ele e comecei a andar.

Pablo: Obrigada!

Eu já estava um pouco distante, mas notei a alegria do “obrigada”. E que linda voz. Continuei caminhando sem olhar pra trás. Um pouco de maluquice escrever meu numero no braço dele, mas ele não parecia incomodado e eu nunca tinha sentido tamanha felicidade.
Logo cheguei ao prédio principal. O maior e mais alto de todos os outros. O mais sofisticado também.
Entrei e peguei o elevador. A sala de Mercedes era no ultimo andar, ou melhor, a sala era o ultimo andar.
Entrei devagar, eu não tinha medo dela, tinha medo do que ela podia fazer. Ela mandava em tudo e em todos. A sala estava escura.

Mercedes: Oi bonitinha!

Levei um susto dentro de mim, mas permaneci normal por fora. Só havia uma pessoa no mundo que me chamava de bonitinha.

Mercedes: Seu pai te chamava assim não era?

Rochi: Era. – Respondi meio incomodada.
Mercedes: Sente-se.

Eu estava pronta para perguntar onde quando as luzes se acenderam e eu então, pela primeira vez vi como era a famosa sala 0. Caminhei ate à poltrona e me sentei
Mercedes: Já tinha visitado essa sala, Rocío?

Rochi: Não.

Mercedes: O que achou?

Rochi: É... Inexplicável!

Mercedes: É aqui que tudo nasce. Todas as idéias. É aqui meu canto especial.

Olhei ao redor e realmente, lá era especial. Então, no meio dos vários computadores, vi um que ficava mais afastado dos outros.
Mercedes: Esse computador que você esta olhando...

Eu gelei. Como ela sabia que eu estava olhando para aquele computador?
Mercedes: É o computador principal. Sem ele os outros não valem nada.

Ela continuou me explicando, me contando tudo a respeito da sala, das maquinas de toda aquela tecnologia. Claro que eram coisas que não me interessavam, mas não me atreveria de pedir para que ela parasse de falar. O que me intrigava era por que. Por que ela estava me contando tudo aquilo? Por que ela estava confiando em mim?

Mercedes: Esta me ouvindo, Rocío?

Rochi: Sim. Sim!

Sorri como se estivesse mesmo prestando atenção. Na verdade eu estava. Mas eu prestava atenção nela. Como ela andava, falava, todos os movimentos, como ela agia na minha presença. Eu queria conhecer a nossa “chefa” queria saber mais sobre a pessoa que tornou o “mundo perfeito” possível.

Mercedes: Mas o verdadeiro motivo de eu ter te chamado aqui, é por que quero te pedir algo!

Rochi: Peça o que quizer!
Mercedes: Dois novos alunos estão por chegar e eu gostaria que voce os recebesse.

Eu? O que a fez pensar que eu seria boa para receber alunos? Ainda mais novatos! Mas como dizer não pra ela?
Mercedes: Então o que acha?
Rochi: Tudo bem. Acho que posso fazer isso!

Mercedes: Muito obrigada, vai me ajudar muito! Depois te informo tudo o que precisa saber sobre eles.

Ela se levantou e eu a acompanhei. Ela me levou até a porta.

Mercedes: Foi ótimo falar com voce Rocío.
Rochi: Digo o mesmo!
Ela sorriu, não sei se o sorriso foi verdadeiro, mas acabou arrancando um sorriso meu. Eu saí, ela fechou a porta. Enquanto caminhava em direção ao elevador, olhava para trás algumas vezes, quando novamente esbarrei em alguém.
Rochi: Perdão, hoje eu to muito desastrada!

Pablo: Tudo bem Rochi!
Aquele sorriso de novo!

Rochi: Mil perdões. Uma vez é ruim, duas vezes é péssimo. É melhor ficar longe de mim para não ter uma terceira vez.

Pablo: Eu corro o risco! – Ele sorriu.

Preferi fingir que não tinha pegado a indireta. Eu não tirava os olhos dele. Aqueles lindos olhos claros.

Pablo: Eu tenho que ir. Te ligo mais tarde! – Ele começou a caminhar em direção a sala 0.

Eu não respondi, apenas balancei a cabeça e sorri. Entrei no elevador e aproveitei os últimos minutos para observá-lo enquanto as portas se fechavam.

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