
Capítulo 11 – Sem pensar.
Quando abri os meus olhos, vi Pablo gritando com a morena e depois correu em minha direção. Eu sentia fortes dores nas pernas e nas costas.
Pablo: Meu amor! – ele se abaixou e tocou meu rosto. Ele já chorava um pouco desesperado, mesmo tentando parecer forte.
Com o que me restava de forças levei minha mão até minha coxa de onde tirei, agonizando de dor, um enorme pedaço de vidro que estava ali cravado.
Pablo se desesperou ainda mais. Antes de desmaiar o ouvi gritando para que alguém buscasse ajuda e para que chamassem Kant. A última coisa que vi foi Lali, caindo ao chão assustada. Após isso, não vi nem ouvi absolutamente nada.
Abri meus olhos rapidamente como se tivesse acabado de acordar de um pesadelo. Meu corpo imóvel sobre a cama era cuidadosamente analisado pelo medico.
Kant: Olá! – ele sorriu rapidamente e depois voltou a sua atenção para os meus cortes.
Eu olhei para todo o quarto, buscando algo que nem eu mesma sabia o que era. Minha cabeça girava e meus olhos doíam. Kant continuava a fazer curativo. Próximo a nós havia, em cima de um dos criados, uma bandeja com vários cacos de vidro, alguns bem grandes, outros pequenos, mas todos cobertos de sangue.
Rochi: Minha cabeça dói. – eu reclamei.
Kant: Beba isto! – ele disse calmamente enquanto me entregava um copo com um liquido alaranjado.
Rochi: Vai fazer minha cabeça parar de doer?
Kant: Beba. – ele insistiu
Levantei meu braço dolorido até o copo e bebi. O liquido amargo desceu queimando minha garganta, me provocando náuseas.
Kant: Você teve sorte. Foram muitos cortes, mas quase poucos realmente profundos. A maioria foram cortes bem superficiais. Os comprimidos que estão ao seu lado são para o caso de voce sentir dores insuportáveis. Nada de tomá-los por causa de uma “dor de cabeça”.
Dei um leve sorriso. Então ouvi Jime, Pablo e Lali discutindo do lado de fora.
Pablo: O que ela faz aqui?
Jime: Se acalme Pablo.
Pablo: Quero ela longe daqui e eu quero entrar.
Jime: A Lali vai ficar e voce não pode entrar.
Pablo: Não quero saber!
Pablo abriu a porta rapidamente, mas ficou parado ali, me olhando. Fixou-se em cada corte visível e nas toalhas de sangue que estavam no chão. Virou-se e saiu. Kant me olhou.
Kant: Vou falar com ele. Você vai ficar em repouso o máximo possível.
Rochi: Não posso. Tenho que ensaiar para as Olimpíadas!
Kant: Fique em repouso. Estarei vindo aqui pelo menos uma vez por dia. Não sai da cama a menos que seja absolutamente necessário.
Rochi: Mas...
Kant: É para o seu bem!
Ele se levantou pegou a maleta e saiu. Fechou a porta e eu fiquei sozinha, ouvindo as duas garotas decidirem quem entraria primeiro.
Então a porta se abriu e Lali entrou. Em flashes, o momento em que ela me empurrou voltada e se repetia varias vezes em minha mente.
Ela caminhou até uma parte do quarto. Ficou em silencio por um tempo e então parou ao lado do criado onde estava a bandeja.
Lali: Isso... – ela parou e engoliu em seco. – Isso estava no seu corpo? – ela pareceu amedrontada.
Rochi: É. – eu disse um pouco fraca. – Mas eu estou bem. Quase não sinto dores.
Lali: Me perdoa! – ela se ajoelhou perto da cama.
Rochi: Lali levante-se. Está tudo bem!
Lali: Não, não está. Você podia ter morrido!
Rochi: Não, eu não podia ter morrido. Lali está tudo bem, é serio!
Lali: Eu não sei o que deu em mim! – ela levou as mãos na cabeça e começou a andar de um lado para o outro. – É que... Eu sempre fui a mais popular, a mais linda e a mais talentosa. Daí eu chego aqui e tenho que concorrer com voce. Que é linda, alta, talentosa, loira e namora com... – ela suspirou. – Eu perdi a cabeça!
Rochi: Você não tem que concorrer comigo!
Lali: Eu sei, mas... Eu não queria ter feito aquilo. Não pensei, não penso nas minhas atitudes. Me perdoa!
Rochi: É claro que perdoou!
Lali: Podemos começar de novo?
Rochi: Como quiser.
A morena sorriu e sai do quarto. Bateu na porta, entrou novamente e parou na minha frente.
Lali: Oi. Sou Mariana, mas pode me chamar de Lali. Prazer em conhecer voce.
Eu á olhei um pouco confusa e tive uma vontade imensa de rir. Mas eu entendei o que ela queria e resolvi cooperar.
Rochi: Sou Rocío. Mas pode me chamar de Rochi. O prazer é todo meu.
Lali: Posso te abraçar?
Rochi: Nem precisa pedir.
Levantei-me um pouco sem jeito. Estava um pouco fraca para manter-me sentada na cama. A morena se aproximou e me abraçou com toda a delicadeza possível, para não me machucar. O abraço me fez bem, mas parecia familiar. Como se eu já tivesse abraçados aquela grota, como se já fossemos amigas. Bom, agora éramos, mas era impossível que eu já a conhecesse de outro lugar.
Enquanto ainda estávamos abraçadas, Euge entrou no quarto e nos lançou um olhar que misturava espanto com raiva.
Lali me soltou e Euge cruzou os braços em desaprovação.
Lali: Eu...
Euge: Não diga nada! – ela foi fria. – Como voce está? – ela se aproximou da cama.
Rochi: Estou bem. Estou ótima! – eu sorri. – Eu e Lali nos resolvemos.
Euge: Como?
Rochi: Pode nos deixar a sós, Lali?
A morena concordou e saiu de cabeça baixa.
Euge: Ela quase matou voce! – Eugenia estourou.
Rochi: Vocês são todos exagerados. Eu estou bem. Euge, ela me pediu desculpas. Quer começar de novo. E eu aceitei!
Euge: Mas ela... Ela...
Rochi: Ela está arrependida!
Euge: Como voce sabe?
Rochi: Eu sinto. Eu quero tentar me dar bem com ela. Devia fazer o mesmo!
Euge revirou os olhos e se sentou na cama. Fixou-se em mim e manteve-se em silencio por alguns minutos.
Euge: Tudo bem!
Rochi: Tudo bem? – eu não entendi.
Euge: É, eu... Eu vou tentar me dar bem com a...
Rochi: Lali.
Euge: É. Vou tentar.
Rochi: Obrigada! – eu sorri.
Euge devolveu o sorriso e Jime entrou.
Jime: Vem, Euge. A Rochi precisa descansar. Qualquer coisa é só chamar!
Rochi: Obrigada... Jime.
Jime: Sim?
Rochi: Se vir o Pablo, pode pedir que ele venha aqui por favor?
Jime: Claro. Mas, agora descanse!
Jime fechou a porta. Eu me deitei e logo adormeci.
(Narrado por Pablo)
Desci as escadas, enfurecido. Não queria ver nem falar com ninguem. Os cortes de Rochi me deixaram aflito, perplexo e revoltado.
Entrei em meu quarto irritado, bati a porta e me joguei na cama. Fechei os olhos e antes que pudesse pegar no sono lembrei-me de Kant.
Levantei-me em um pulo e corri atrás do doutor.
Pablo: Kant! – eu gritei avistando-o de longe. Estávamos próximo ao laboratório dele.
Kant: Onde voce esteve Pablo? Precisei falar com voce depois que saiu do quarto de Rocío, mas não te encontrei.
Pablo: Eu fiquei... Eu não estava me sentindo muito bem.
Kant: Está se sobrecarregando, Pablo.
Pablo: Ela vai ficar bem?
Kant: Ela já esta bem.
Pablo: Tem certeza?
Kant: Tenho. Mas ela precisa descansar. E é sobre isso que queria falar com voce. Estou sentindo que ela vai desobedecer. Não a deixe sair da cama até que ela recupere as forças. Fique de olhos nela.
Pablo: Sim, senhor.
Kant: Mas principalmente, descanse Pablo. Está exausto, dá pra ver em seus olhos.
Pablo: E quanto ao senhor? Não vai descansar?
Kant: Eu sou um caso a parte, meu jovem.
Ele sorriu e entrou em sua sala.
Eu caminhei para ir embora, mas lembrei-me de algo que precisava falar com o doutor. Corri e quando ia bater na porta, ela se abriu. Kant não a havia fechado direito e quando pude observar a sala vi Kant me olhar assustado, como se escondesse algo. E quando tive visualização da maca que estava atrás dele, entendi o desaparecimento do melhor amigo da minha namorada.
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